quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A Eternidade do Amor

A Eternidade do Amor.

Talvez a morte mais difícil seja essa que você espera para morrer, quando a morte anuncia o fim de sua vida, devagar, cauteloso, dando-lhe esperanças de uma possível cura de uma possível volta de um momento de completa loucura e insanidade daquela que você acredita que a sua vida é para sempre.
A morte não é bela
A morte dói na alma, é contra a alma, é imoral a alma, é fora do alcance de qualquer ser humano mortal, se há algum deus, esse deus é a morte, implacável, cruel, enganoso, impossível, misteriosa, crédulo de nossa imensurável credibilidade na fé, é a fé, a morte é como o criador que mata a própria cria, filha bastarda, sem mãe nem pai, amigos, filhos, parentes, sem gente, é vazia, oca, sem nenhuma dimensão, direção, como o fim, é um fim:
A morte.
Que morte é essa que se apresenta lenta, tirando do outro, lentamente, sadicamente a sua vida, como se fosse ela a dona do mundo, o deus da vida, a única certeza acima do homem.
Que morte é essa que te levou assim, e por ser assim, eu fiquei aqui sem mim.
A vida lhe saindo aos poucos, fez de mim parte de você que se ia indo, e eu fui indo com você, precisando de você, acertando todos os meus erros com você, eliminando todas as frestas, poeiras, resíduos, reatando, revivendo, reconstruindo, refazendo nossas vidas e fazendo de nós um só, um pelo outro, um atrás do outro, um indo em direção ao outro, e eu nem percebi que quem ia era só você e não eu e você.
E fiquei aqui com saudades, dos seus lábios finos, frágeis, indo, sua mão entregue a minha, e qualquer gesto meu era um céu seu e meu, coçando suas costas, metendo-lhes as unhas como sempre você pediu, implorou por toda a sua vida inteira dentro da minha, e eu pensei que faria assim muito mais que fiz assim e nós dois na glória no orgasmo respirávamos fundo aliviados do mundo sem peso soltos de amos forrados abarrotados amontoados de vidas alegrias sorrisos precisos música paz amor demais para dar e fomos indo dando nos dando dando dando nos dando dando dando dando-nos
e agora:
continuo dando...
continuo conversando...
continuo amando...
continuo vivendo...
continuo coçando as costas:
de quem! onde! dá para ir até aí! como?
continuo!!!
Ah e essa saudades que não me deixa dormir.
Já não me lembro ter passado um dia na vida que não tivesse falado o seu nome, desde que o conheci nesse mundo mágico, inteiro, imenso, e foi lá em um canto dele que nos encontramos em meio a milhões trilhões e zilhões de estrelas, umas cadentes, outras cometas, outras satélites, outras planetas, vaga-lumes, jacarés, todos vendo e iluminando o nosso primeiro beijo, o nosso primeiro encontro alma e corpo e tudo gritava, corria, aparecia, escondia, saia, naquela imensa noite iluminada naquele meio do pantanal cheio de festa. Jacarés nos viram beijar, tuiuiús pressentiram o nosso primeiro olhar, peixes pularam quando meu corpo colou no seu e a grama amassou a terra entrando para o fundo dos mais fundos dos mundos onde a gente tudo recomeça:
Morri ali para sempre de amor com você:
Continuo.
Tão certo como a morte é a eternidade do amor por nós dois

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